Quais interesses são defendidos pelas instituições do Estado?
Por Jackeline Saori Teixeira*
Título do artigo comentado: What do State Institutions Say? Twitter as a Public Communication Tool During the Impeachment of Dilma Rousseff
Autores/as do artigo comentado: Francisco Paulo Jamil Marques, Fellipe Herman, Andressa Butture Kniess, Jackeline Saori Teixeira.
A que questão de pesquisa o texto responde?
O artigo busca responder se, e em que medida, houve instrumentalização de plataformas de comunicação oficiais.
Por qual motivo esse texto é relevante?
Em um contexto polêmico, muito se questionou sobre o papel da comunicação no processo do impeachment da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. Com foco na atuação de órgãos estatais, o que diferencia o artigo de parte considerável da literatura é que ele investiga se a utilização da tecnologia digital, especificamente uma rede social, pela Câmara dos Deputados, Senado Federal, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal se deu de maneira a garantir meramente a presença institucional ou se houve instrumentalização da comunicação pública de Estado.
Nesse sentido, os autores não se restringem a debater uma questão importante somente para a literatura acadêmica, mas também ajudam a examinar uma indagação feita por outros setores da sociedade: as instituições do Estado são apropriadas em favor ou contra alguém?
Resumo da pesquisa:
Dada as questões em que o estudo se insere, os pesquisadores propuseram a hipótese de que a ênfase de publicação de posts com tomada de posição política por perfis oficiais de Twitter gerenciados por instituições do Estado aponta para a instrumentalização das ferramentas de comunicação disponíveis. De modo a estudar tal proposição, a pesquisa conta com um corpus de 795 tweets veiculados nos referidos perfis entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016 que continham as palavras-chave e se referiam ao processo de impeachment da ex-presidente. Investigou-se tanto a frequência de publicações de posts que trazem alguma das palavras-chave previamente estipuladas (impeachment, impedimento, afastamento; golpe); quanto o conteúdo desses tweets, com base nas variáveis de forma e conteúdo, cujas categorias são listadas a seguir:
Forma:
1. Interação direta com os usuários
Conteúdo:
1. Ritos do processo de impeachment
2. Agenda de mídia
3. Divulgação de notícias
4. Divulgação de realizações políticas
5. Crítica e campanha negativa
6. Promoção de ideias e expressão de posicionamentos
7. Outros
As três primeiras categorias da variável de conteúdo estão ligadas ao que os autores chamam de comunicação pública de caráter normativo – noção de que a comunicação de Estado tem o dever primordial de incentivar a participação da esfera da cidadania, de modo a aprimorar a oferta de serviços e aprimorar o controle social por meio de mecanismos de transparência (p. 4) -, enquanto que as três subsequentes indicam uma comunicação pública estratégica ou instrumental – dedicada a construir imagens públicas com vistas a conquistar ou manter nichos de poder (p. 4).
Conclusões principais do texto:
Os achados do trabalho indicam que cada um dos quatro perfis adotou uma postura distinta de utilização do Twitter no que diz respeito à frequência de publicações e interações com outros usuários, assim como no conteúdo publicado. Sendo o perfil do Palácio do Planalto que apresentou mais textos relacionados à comunicação pública instrumental. O comportamento da instituição, observado pelas publicações, indica uma postura crítica ao processo de deposição da então presidente, mas após o afastamento provisório dela há um abandono do assunto. O que dá indicativos de instrumentalização política do perfil, seja a favor do governo Dilma Rousseff, seja após a posse de Michel Temer.
No tocante à literatura, o artigo corrobora com a sustentação da existência de distinção de dimensões da comunicação pública. A abrangência de tipos de conteúdo percebidas nas mensagens publicadas pelas instituições analisadas demonstra a complexidade da comunicação realizada por organizações públicas e reafirma a necessidade de se analisar tais processos.
REFERÊNCIA:
MARQUES, Francisco Paulo Jamil et al . What do State Institutions Say? Twitter as a Public Communication Tool During the Impeachment of Dilma Rousseff. Bras. Political Sci. Rev., São Paulo, v. 13, n. 3, 2019 .
*Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná, integrante do Grupo de Pesquisa PONTE.
As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.