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Conceitos e problemas na análise do risco político

Por Eduarda Mayer*

O risco é um constante julgamento sobre custos e benefícios, ganhos e ameaças e oportunidades e perigos segundo o Prof. Dr. Flávio Rocha de Oliveira. No capítulo “A Análise do risco político – conceitos e problemas”, do livro “Introdução ao risco político”, Oliveira aponta a importância deste tipo de análise em tempos de intensa globalização como o atual.

O cientista político inicia o seu texto evidenciando como, no século XXI, os riscos tornaram-se mais claros, por conta da globalização e por conta da intensificação dos contatos econômicos, sociais e políticos. Assim, os riscos tornaram-se maiores, tanto para os indivíduos quanto para as organizações. A política está presente no nível macro e no nível micro, nas instituições privadas e nas públicas, então, para ter sucesso no mundo globalizado é necessário levar em conta o risco político. Com esse capítulo, Oliveira busca construir uma perspectiva brasileira que considera os riscos políticos e incertezas, e as consequências dessa insegurança tanto para países desenvolvidos quanto para países em desenvolvimento.

Com a intenção de mostrar as ligações entre risco e sociedade, Oliveira faz uma exposição da literatura relacionada com o tema. Primeiramente, é preciso buscar a etimologia da palavra “risco” para compreender quando o risco se tornou uma preocupação social. Anthony Giddens defende que a palavra se originou no oeste europeu, durante as grandes navegações. François Ewald sustenta que o termo surgiu durante a Idade Média, também relacionado com assuntos marítimos. Já Peter Bernstein defende que a noção de risco surgiu durante o Renascimento, quando os valores católicos foram postos em questão e a razão começou a prevalecer. Em todos casos, o risco está relacionado com o perigo e também com ganhos e perdas.

Para Anthony Giddens e Ulrich Beck, a tendência humana de se preocupar com as probabilidades de ganhos e perdas tornou-se mais forte nos anos 90, após a Guerra Fria e a aceleração da globalização. Assim, surgiram os riscos externos e internos. Os primeiros seriam os riscos naturais, provindos da natureza e o segundo grupo composto pelos “riscos fabricados”, como crises econômicas, poluição, trânsito, terrorismo, crimes e guerras. Os riscos fabricados podem ser considerados um fenômeno social e são a causa do constante mal estar social moderno. Torna-se função dos políticos elencar e priorizar os problemas sociais em evidência, fazendo cálculos de risco político, criando uma agenda de campanha com prioridades para assim garantir votos. Esses riscos políticos (fabricados) têm a capacidade de entrelaçar-se, assim, a análise da conjuntura total é essencial. 

Ian Bremmer e Preston Keat, pesquisadores que trabalham como analistas políticos atualmente, conceituam risco como a composição entre probabilidade e impacto e afirmam que apesar de sua grande utilidade em algumas ocasiões, o método quantitativo não é o ideal para a análise política, que é majoritariamente subjetiva. Atualmente, a percepção social de risco possui importância para três atores: o governo, as organizações da sociedade civil e as empresas − tornando analistas políticos/de risco necessários para empreender e atuar ativamente na sociedade civil. Os atores políticos possuem a capacidade de influenciar o jogo político e não precisam, necessariamente, estar dentro do governo.

Os riscos políticos atuais têm diversas causas e, como consequência da globalização, seus efeitos negativos se espalham por países desenvolvidos e em países em desenvolvimento. Exemplos disso são as instabilidades políticas em países em desenvolvimento, a dependência energética mundial, a transformação tecnológica, a multipolarização do sistema internacional, entre outros.

Também pode-se categorizar os tipos de risco político que necessitam de análise. Primeiramente, o grau de estabilidade interna dos países, ou seja, quão estável estão as instituições políticas nacionais. É necessário também examinar a geopolítica, o estudo que associa geografia, política, estratégia e história, assim como as tensões entre as nações. Da mesma forma, a economia e a regulação são importantes, pois os governos e a política interferem nos mercados mundiais e a regulação por agências, que criam o ambiente econômico e fornecem previsibilidades para os investidores.

Torna-se claro que a política não é um jogo irracional, onde os atores navegam seus desafios no escuro. Os riscos políticos existem no nível internacional e nacional e os atores políticos necessitam lidar com as incertezas do sistema, garantindo a coerência e adaptabilidade e, em alguns casos, a reeleição. Assim, analistas políticos e de risco tornaram-se uma necessidade para os governos, os estadistas, as instituições e as empresas.

O cientista político Flávio Rocha de Oliveira oferece um panorama completo e complexo da análise de risco contemporânea. Os estudos e apontamentos sobre os estudos prévios relacionados ao assunto foram capazes de apresentar uma contextualização importante para o entendimento da análise contemporânea. Também a identificação e explicação de algumas causas de risco político contemporâneas feitas pelo autor foram essenciais para o entendimento dos riscos atuais e as diferenças entre os riscos em países desenvolvidos e países em desenvolvimento.

O autor cita a multipolarização do sistema internacional como um dos riscos políticos atuais. Um exemplo disso é a disputa entre os Estados Unidos e a China, que tomou maior proporção com a crise causada pelo coronavírus. Ian Bremmer, um dos atores citados no texto de Oliveira e Cliff Kupchan (2020) apontaram a disputa econômica e política entre os dois países como o 3° maior risco de 2020 relacionado com o covid-19. Oficiais estadunidenses chamaram o vírus de “vírus chinês” e os analistas políticos afirmaram que com as tensões consequentes da pandemia, as tensões entre os dois países iriam se escalar.

Os pesquisadores estavam certos, pois em julho de 2020 ambos países fecharam consulados pertencentes ao adversário. Trump decretou o fechamento da embaixada chinesa em Houston e, como resposta, o governo chinês assumiu o controle da embaixada americana na China Central (LIY, 2020). A certeira previsão dos analistas demonstra o papel importante dos analistas políticos para a política internacional que, com base na história, na política, na economia e na experiência foram precisos na análise, oferecendo um panorama político correto para empresas, instituições e atores políticos que são afetados pela política externa.

REFERÊNCIA PRINCIPAL

OLIVEIRA, F. A Análise do risco político – conceitos e problemas. In: Marques, M.; Oliveira, F. Introdução ao risco político: conceitos, análises e problemas. 1. Ed, Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

BREMMER, I.; KUPCHAN, C. Risk 3: US/China. Eurasia, 19 mar 2020.

LIY, M. V. China assume o controle do consulado dos EUA em Chengdu. El País, 27 jul 2020.

* Eduarda Mayer é aluna da graduação do curso de Ciências Sociais, na Universidade Federal do Paraná. É bolsista pelo PIBIC e participante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI).

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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