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Quais as bases de uma boa análise de conjuntura?

Por Letícia Bonaccorsi *

A discussão sobre a análise de conjuntura dentro da Ciência Política tem sido fomentada uma vez que entender o panorama das sociedades contemporâneas têm cada vez mais relevância. Alguns autores clássicos já escreveram delineando o tema, mas para esse trabalho nos atemos a três: Herbert de Souza, José Eustáquio Diniz Alves e Sebastião Velasco e Cruz.

Os autores

Herbert José de Souza foi um sociólogo mineiro que desenvolveu um trabalho de extrema relevância na sociedade brasileira. Desde muito jovem integrou militâncias estudantis e pode ser considerado um ícone de resistência política. Era professor da Universidade Nacional Autônoma do México, tendo passado por outras instituições ao redor do mundo. Escreveu o livro “Como fazer Análise de Conjuntura”, cuja contribuição é relevante para os estudos no tema até hoje. Souza é responsável também pela criação do IBASE em 1981, o Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas. 

José Eustáquio Diniz Alves é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Economia, doutor em Demografia pelo CEDEPLAR-UFMG, com pós-doutorado pelo Nepo/Unicamp.  Foi professor da Universidade Federal de Ouro Preto e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE. Desenvolveu trabalhos que combinavam a Demografia e as Ciências Sociais.  Para o presente trabalho vamos discorrer sobre o artigo intitulado “Análise de conjuntura: teoria e método” de 2008.

Sebastião Carlos Velasco e Cruz é professor titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp e do Programa San Tiago Dantas de Pós-Graduação em Relações Internacionais, UNESP/UNICAMP/PUC-SP. Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, fez mestrado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro/IUPERJ e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. O autor possui o título de Docteur d’État da Fondation Nationale des Sciences Politiques (1987). Produz trabalhos na área de política internacional e abordaremos aqui seu trabalho “Teoria e Método na Análise de Conjuntura”.

As obras

O tema comum dos trabalhos é como produzir a produção de uma análise de conjuntura que ilustre uma determinada organização social. Diniz (2008) diz que esse mapeamento da sociedade não deve ser como uma fotografia, mas sim como uma filmagem em vídeo, pois deve ser capaz de capturar não só um momento, mas relacionar-se com o passado e prever posturas para o futuro. Para tal, é necessário que seja feita uma averiguação de fatos não só econômicos, como sociais e políticos. Ou seja: é preciso olhar para os setores financeiros, mas também para suas relações com os Estados, as relações que esses têm com a sociedade e como isso impacta certas tomadas de decisões.

Herbert de Souza (2005) destaca que uma boa análise de conjuntura é capaz de compreender “o acontecimento, o cenário, os atores, a relação das forças e o ponto de vista da análise”. Diniz (2008) e Cruz (2000) ressaltam também a importância da contextualização histórica para a compreensão de uma conjuntura − eles apontam ser necessário entender os caminhos que levaram cada fator à sua posição no momento da prospecção. De formas distintas, os autores propõem que haja um olhar sobre os impactos das estruturas sobre um período em específico.

A análise de conjuntura seria uma constatação que aborda um fato ocorrido, a quem ele atingiu e como ele ocorreu. Esses fatos poderiam ser desde um avanço econômico, a queda de um governo ou pressão de pautas conservadoras no congresso que deveriam ser descritas sistematicamente, já os atingidos seriam os envolvidos na discussão, permitindo o olhar a partir dos favorecidos ou dos prejudicados com o fato. Cabe o destaque de que diferentes pontos de vista geram diferentes análises, o que pode impactar no trabalho que se busca fazer. Com uma organização dos fatores, a contraposição dos pontos de vista e uma descrição histórica, seria possível fazer uma análise de conjuntura efetiva.

Ainda que cada autor tenha sua maneira de apresentar o tema, é consenso que uma boa análise de conjuntura é capaz de olhar para além dos fatos econômicos e mapear o todo de um conflito. Enquanto Souza (2005) traz um olhar mais exploratório e mais descritivo do processo para execução da análise, Diniz (2008) e Cruz (2000) revisitam clássicos como Karl Marx para ilustrar os conceitos das estruturas que formam as sociedades e partindo deles entender a ação de cada fator para a análise.

Como já foi citado anteriormente, o grande destaque desses mapeamentos da sociedade são os fatos que envolvem as questões financeiras, uma vez que a economia é um pilar de debate. No entanto, todos os autores destacam que é necessário olhar para além de tais fatos e buscar a compreensão de movimentos sociais e outras pautas. Diniz (2005) destaca também que as análises não podem ser meramente uma propaganda política, mas sim uma constatação equilibrada.

O sociólogo Herbert de Souza é o pioneiro na metodologia do desenvolvimento das análises, o que não significa dizer que seus sucessores aqui apresentados não propõem sistemáticas eficientes para essa forma de pesquisa. A combinação das diferentes áreas que José Diniz trabalhou reflete em um panorama mais geral sobre a sua produção. Já Sebastião Velasco e Cruz traz tem uma perspectiva mais internacionalizada. Ao agregarmos as três produções considerando as sob o olhar da Ciência Política, elas se complementam fechando desde a metodologia da análise, passando pelos conceitos básicos da compreensão social e chegando na categorização dos fatos propriamente.

As leituras aqui abordadas possibilitam o entendimento de como a execução da análise de conjuntura deve ocorrer. Sua análise a partir de produções de diferentes momentos permite entender a evolução desse formato de pesquisa e reconhecer como ela pode ser moldada de acordo com perspectivas e momentos diferentes. A compreensão das estruturas sociais e a forma que elas impactam em diferentes esferas da sociedade possibilita prever ou reparar danos que possam acontecer. Por ser um reflexo de curto prazo, permite também a absorção de situações no momento em que ocorrerem, possibilitando uma visualização de problemas atuais a partir de estruturas mais antigas.

Esse aprendizado permite um olhar mais preparado sobre alguns cenários.  Por exemplo, quando tratamos das pautas conservadoras que estão mais fortes no Congresso Nacional a partir da análise de conjuntura, percebemos uma série de fatores que englobam esse acontecimento em específico e conseguimos traçar um panorama mais geral. E uma vez que, com esses textos, entendemos a forma de fazer, o desenvolvimento de uma análise de conjuntura fica mais fácil.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. E. D.. Análise de conjuntura: teoria e método. APARTE – Inclusão Social em Debate, Rio de Janeiro, p. 1-12, 01 jul., 2008.

CRUZ, S. C. V.. Teoria e método na análise de conjuntura. Educação e Sociedade, Campinas, v. 72, p. 145-152, 2000.

SOUZA, Herbert José de. Como se faz análise de Conjuntura. Petrópolis-RJ: Editora. Vozes, 2005.

* Letícia Bonaccorsi é graduanda em Ciências Sociais com ênfase em Ciência Política, integrante do PET de Ciências Sociais da UFPR e participante do Laboratório de Partidos e Sistemas Políticos (LAPeS) da Universidade.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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